Como me tornei mãe

Hoje faz dez dias que a Rebecca nasceu.
Ainda não sei bem como definir essa nova fase. 
Se vale uma palavra acho que estou me acostumando e aprendendo a ser mãe. 
É tudo novidade e às vezes dá medo.
A Lau nasceu numa quinta-feira, depois de quase duas semanas de peregrinação médico, laboratórios e hospital. Na reta final a minha pressão arterial subiu (ficou brincando 15, 11,13). Juntou-se ao quadro uma infecção urinária que posteriormente já havia sido eliminada. Eu não estava bem.
Começava a novela.
Em meio a expectativa e receio descobri que meu obstetra estava viajando. Fiquei sem chão. Depois de seis meses me acompanhando bateu a insegurança em ter que procurar outro médico. Foi o que aconteceu. Antes disso tive que enfrentar a burocracia do plano de saúde. Foram dois dias até que conseguisse que um profissional da área me examinasse, o que ocorreu no final da tarde da quarta-feira, 09 de novembro.
O primeiro médico observou a ultrassonografia feita no dia anterior e afirmou que estava tudo bem. Intrinsecamente só faltou ele dizer 'é tudo coisa da sua cabeça'. O bebê estava de 39 semanas e segundo ele só aguardava a hora da bolsa estourar e vir ao mundo. A análise foi feita só no papel. Por via das dúvidas ele solicitou a enfermeira que avalia-se minha pressão e também escultasse os batimentos cardíacos da Rebecca, foi aí que veio a surpresa. Vi a expressão calma do obstetra mudar para uma preocupada. Estava tudo alterado. O choro veio depois que ele disparou "deixa ela de observação. Acompanha a pressão e os batimentos. Se ela piorar eu venho para fazer uma cesárea de emergência,  mas só se não tiver outro médico. Eu não quero me comprometer. Só opero se não tiver outro profissional." O mundo desabou.
A segunda médica chegou por volta das 21h30 quase 4 horas depois do contato telefônico (o dilema foi me manter calma para a pressão não subir). Ela olhou os pés inchados, os dados avaliados anteriormente e determinou que retornasse no dia seguinte. Dali em diante ela minha acompanharia. Recomendação ao futuro papai, atenção redobrada!
Voltei ao hospital no dia seguinte a pedido dela. Vieram os remédios para a infecção e pressão. Passei o final de semana me tremendo e me sentindo fraca, mas cheguei bem até o retorno, na segunda-feira 14. A medicação surtiu efeito. Ela me deu mas o feriado da Proclamação da República de espera. Na quarta-feira seria possível determinar o que enfim seria feito.
Cheguei ao hospital cedo. Aguardei por quase meia hora até que ela me observasse novamente. Os planos mudaram. Depois de nutrir a certeza de um parto normal, vi tudo mudar de última hora. Havia risco para mim e para a Rebecca. Poderia esperar completar as 41 semanas (estava com 40), mas nada era preciso de que o parto seria normal. A vilã foi a pressão. 
Minha cesárea foi marcada para o dia seguinte, preferi assim 'na bucha', sem espera. 
A internação ocorreu às 06h30. Uma hora e meia depois caminhava para o Centro Cirúrgico. Na primeira porta fora da área de transeuntes, vesti a bata azul esverdeada que já conhecia do ano anterior (sensação de Déjàvu). Observei cada detalhe do local. Os aparelhos, os bipes, a balança, as luzes no teto. Eu entrava uma pessoa que nunca mais sairia igual em todas as nuances.
O parto foi rápido. Acho que o espaço de tempo entre a anestesia fazer efeito e ver a Rebecca não levou nem dez minutos. Só me recordo dá médica falando "quem vai segurar o bebê?" e uma menininha comprida, de olhos bem abertos e cabelos negros observando tudo numa calmaria que só ela. A expressão e traços todas do pai. Mentalmente desabafei 'não puxou pra mim' (ele ganhou a aposta). Rápida foi levada dali. 
Até que nós encontrássemos demorou alguns minutos. A pressão não subiu, mas tive que lidar com uma falta de ar que durou certo tempinho. Lá fora ela berrava pro mundo ouvi que ela tinha chegado. O que apertava meu coração. Ela estava com fome.
Deitada na maca a enfermeira colocou-a sobre meu peito. Não sei definir muito bem a sensação, mas ela parou o berreiro quando percebeu que estava comigo. Me fitou aqueles grandes olhos e se acalmou.
O primeiro que vi foi meu esposo. A raiva por não ter acompanhado o parto (não autorizaram a entrada no centro) se dissipou. Começava uma nova família.
Não preciso dizer que a transição do efeito da anestesia foi bem chata. Eu sou muito inquieta e ficar sem o movimento das pernas e deitada por quase 24 horas foi horrível! Sinceramente eu prefiro a anestesia geral, ela é mais perigosa, no entanto os efeitos colaterais são quase mínimos. Pra completar ao contrário do que eu previa o leite sumiu. Na madrugada vi a Rebecca aos prantos e tivemos que ir para o composto lácteo. Isso acabou comigo. Me senti impotente e inútil (descobri depois que essa ausência é absolutamente normal e comum as mamães de primeira viagem). Tudo pareceu muito complicado.
Tivemos alta no final da sexta-feira. Eu estava louca pra ir para casa. Não sou fã de hospital e só queria ir pra longe dali. Acho que se não tivesse saído eu teria fugido.
Essa fase inicial como mãe tem sido um aprendizado. Eu sinto como se não soubesse nada. As fórmulas mágicas, todos os textos sobre gravidez e pós parto que li até a entrada no hospital foram para o espaço. Divido meu tempo em cuidar da Rebecca e de mim afinal estou me recuperando. Se sumir daqui não estranhe e que agora além de jornalista eu sou mãe.


Pequena, grande Rebecca.



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