Ciúme (Part I)

Estava lá. Escancarado. Aberto. Exposto. A mostra para todo mundo ver. Depois de dez recados, era o último. Derradeiro. O certeiro.

“Meu amor.
Saudades de você...”

Sentiu as libélulas no estômago. Sim libélulas. Inquietas, sôfregas e ávidas se revirando no seu interior. Aquele gosto amargo e incômodo subiu-lhe até a língua. Uma ânsia ruim. Abandonou o computador. Passou a mão no rosto. Caminhou pelo quarto. Olhou pela janela. Lá fora uma mãe passeava com seu carrinho de bebê. Viu o gato pulando o muro da vizinha. O cajueiro carregado do outro lado da rua. O grupo animado no bar da esquina. Voltou sua atenção para a tela. O casal entre beijos e abraços. A inquietude venceu a calmaria. A sensação desagradável no seu íntimo parecia ainda maior, ainda mais avassaladora. Descontrolado socou a parede a sua frente. O quadro com a foto dos dois despedaçou-se. Não queria ter feito aquilo. Não era um bom sinal ver a felicidade eternizada naquele pedaço de papel fotográfico estagnada entre cacos de vidro. Ela continuava lhe sorrindo. Aquele sorriso doce e meigo que ele tanto adorava. Juntou o que restou do porta-retratos e colocou sobre a mesa. Fitou novamente o texto na tela. Analisou a imagem do outro. O seu perfil. Definitivamente ele nunca havia o visto antes. Quem seria ele? Que liberdade era aquela de escrever para ela? Do que estaria com saudades? Amor? As perguntas cresciam a medida dos pontos de interrogação.
1 minuto depois ... um bipe. Novo e-mail na caixa de entrada. Era dela.

“Eu te amo”.

O ciúme é capaz de deixar um homem louco.

Foto: br.olhares.com

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