Bianca

Bianca corre pelo gramado do quintal atrás de uma borboleta. Dispara pelo jardim de margaridas, girassóis e dentes-de-leão da avó. Sobe numa pedra. Pula. Sorri. E acena para o inseto que some ao longe. Suspira. Me olha. Joga um beijo. Como é doce essa menina. Pega a bicicleta parada sobre a calçada. Peço para que tenha cuidado. Ela pedala. Mil pedaladas. Agora é um carro. De duas rodas, mas é. Buzina. Grita “Saí da frente” (acho que imitando pai). Pára. Pergunto ao longe se aconteceu alguma coisa. Ela me responde incisiva que esta no semáforo. Solto um “tudo bem”. Ela segue pelo caminho.

Um focinho aparece embaixo do portão. É o suficiente para que Bianca saiba que Mila quer entrar. Num instante a pequena menina está com a Cocker Spaniel negra nos braços. A cadela insiste em lamber a garotinha que sorri e pede para parar. No alto da goiabeira um bem-te-vi observa desconfiado a cena. Canta. Ela o observa. Imita-o. Meio minuto depois ela dispara atrás do que agora é um vulto negro. A brincadeira agora ganha um novo ingrediente, a mangueira do jardim. Peço novamente cuidado. Ela me diz que “não é uma mangueira, mas um raio da varinha mágica dela”. Meu Deus onde será que ela viu isso? Talvez em algum filme. Ela adora cinema, acho que isso puxou para mim. Gosto das artes, da escrita, da fotografia e a pequena absorveu um pouco dos meus prazeres. Do pai veio essa intempestividade, a euforia, a hiperatividade.

Bianca outro dia era um bebê. Hoje corre pelo jardim. Me faz perguntas surpresas no café da manhã. Pula na minha cama quando tento descansar depois de um dia cheio. Veste minhas roupas. Abandona meus sapatos pela casa. Diz que sou eu passando meu batom marrom. É uma pequena cópia de mim. Contemplo o quintal lá fora ...

Bianca só existiu nos meus pensamentos.

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