Dúvida (Parte II)

- Papai de onde eu vim?

O homem passou a mão no rosto. No fundo também pensava numa saída pela tangente para se esquivar da pergunta do garoto. Que idéia foi aquela da mulher de lhe colocar num beco sem saída com aquela pergunta complicada do filho.

- De onde você veio?

- É paizinho.

- Hummmm. Você ...

- Eu...

- Quer brincar de carrinho?

- Não!

- De videogame?

- Não!

- Não?

- Não! Você sempre perde e não tem graça.

- Foi mau. – Disse o homem magoado.

- Desculpa papai, mas o senhor não sabe jogar, o senhor é um ciasco.

- Um o quê?

- Ciasco. Aquela palavra que a mamãe diz.

- Fiasco?

- É!

Ele se voltou para o lugar onde estava a esposa.

- Melissa você fica dizendo pro menino que eu sou um fiasco? – Questionou ele gritando.

- Eu não!

- Ah bom.

- Agora se ele ouviu, aí não é problema meu.

- Ahrrr! Tá bom bonitona.

- Obrigada pelo elogio querido.

- Papai.

- Sim filho?

- De onde eu vim?

Não adiantava. Não havia escolha. Ele teria que responder. Pensou numa maneira de explicar o assunto.

- Bom. – Ficou em silêncio. A professora não explicou isso na escola?

- Eu perguntei pra ela. Ela ficou sem jeito assim como o senhor e disse que era melhor eu perguntar pra vocês.

- Esperta essa sua professora... tirou o dela da reta e botou o meu.
- Hã?
- Esquece amorzinho. É uma expressão de adulto.

A mulher olhou os dois na sala. O garoto agora estava sentado na perna do pai, que a essa altura já tinha desfeito o nó da gravata, desabotoado os primeiros botões da camisa e tirado os sapatos. Viu que seria ela a escolhida para responder a dúvida do menino.

- Um dia ...- Começou ela.

O homem respirou aliviado.

- O papai e a mamãe foram dormir.

- Te amo Melissa!. Exclamou ele.

- Você fica me devendo essa! Cachorro!

Ele fez menção que iria se levantar.

- Fica aí ainda. Houve minha explicação pra você aprender para o próximo.

- Você está grávida? – Perguntou o homem surpreso com um sorriso no rosto.

- Isso é assunto para outra hora.

- Eu não acredito! Carambas! Eu vou ser pai de novo. Isso é uma maravilha! – Exclamou exultante.

- Sim? Posso continuar? – Questionou ela.

- Pode, pode querida. Continue.

- Daí o papai tirou a roupa dele e a mamãe a dela...

- Vocês iam tomar banho? – questionou o menino.

- Não, não, nós íamos dormir.

- Mas a senhora não disse que não pode dormir sem camisa porque senão pode ter pesadelo?

Realmente ela tinha dito isso. O marido sorriu da esperteza do moleque. Ela rebateu com um olhar desaprovador. Ele entendeu a mensagem.

- Disse sim filhinho, mas isso é para as crianças como você. Nós adultos não temos pesadelos.

- Verdade. – Afirmou o pai num tom de ironia.

- E o frio mamãe? Vocês não ficaram com frio?

- Não bebê. Então filhote... o papai abraçou a mamãe. Fez um cafuné nela. Beijou e depois de tudo isso botou o pintinho dele, dentro do pipi dela.

- Mamãe! – Disse o menino assustado.

Ela não entendeu a reação do menino.

- Que foi meu filho?

- Mas porque ele colocou lá? – Perguntou o garoto ainda mais surpreso.

- Essa é uma boa pergunta que até hoje eu não sei responder.

- Melissa! – Gritou o marido.

Ela quis sorrir. Talvez da situação, da reação do filho, de nervosismo. Agora que tinha começado teria que terminar. Respirou fundo. Continuou. O marido do lado, ouvia atento a explicação, cada vez mais imprevisível. De certa forma apreciava o embaraço da mulher.

- Então Mateus ... o papai botou o pintinho lá pra plantar uma sementinha. Antes disso ele fez todo um esforço, entende. Trabalhou muito. Mas muito mesmo!

- Essa parte você pode pular querida. – Interrompeu o marido irônico.

- Daí essa sementinha ficou num cantinho da barriga da mamãe. Ela foi crescendo, crescendo e um dia ficou tão grande que não coube mais na barriga aí nasceu o Mateus!

O garoto esboçou um sorriso sem graça. A mãe percebeu a reação. O pai também.

- Entendeu filhote? Que cara é essa? – Perguntou o homem.

- Entendi sim.

- Então o que foi bebê? – Questionou a mãe.

- Eu sou uma árvore?

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