Tereza

Tereza era uma dessas pessoas que provavelmente ao te ver pela primeira vez te prenderia em um abraço. Lembro de uma menina da cidade que costumava visitá-la vez ou outra. Essa pequena desaparecia entre os músculos do ante-braços e somente minutos depois, vermelha do afago era solta.

Tereza era casada com Zé. Teve 6 filhos. Três homens e três mulheres, a família era bem dividida, bonecas e carrinhos, crianças com idade próximas para poder brincar entre si. Seu esposo era ciumento, mesmo que não tivesse motivo, afinal Tereza era um amor de pessoa. Quando saia de casa, varria o terreiro até deixar o chão perfeito, se algum desavergonhado se aproximasse da casa dele veria as pegadas deixadas no chão. Oh homem!

Tereza era a mais velha de uma ascendência de educadores. Ensinava crianças. Ensinou muita gente e por onde passava recebia um gesto de carinho. Aprendeu o ofício com a mãe que um dia montou uma escola para ensinar os meninos da comunidade.



Tereza adorava passarinhos. Aliás, amava-os. Eles vinham até seu quintal comer seus cajus. Um dia a menina da cidade saiu afugentando eles da árvore e ela a repreendeu pedindo que não fizesse aquilo. A fruta era deles. Era um acordo. Ela dava os cajus e eles cantavam a tarde toda no seu quintal.

Tereza era dona de uma risada abafada, quase inaudível. Era lindo vê-la sorrindo. Você sorria também contagiado com aquela energia positiva que emanava dela. Certa vez sua voz calou. No entanto ela era forte e sobreviveu a mudez. Quando voltou a falar, falava, falava, mais que um locutor esportivo e contava muitas histórias.

O tempo passou ... Tereza viu os netos nascer. Um, dois, três, quatro. A família cresceu. Os filhos foram embora e ela ficou sozinha com Zé, menos ciumento e de cabelos brancos.

Numa manhã Tereza sumiu. Correu atrás de um passarinho que apareceu no parapeito da janela do prédio em que estava numa avenida movimentada de uma grande capital. Vestiu os chinelos ajeitou a bata e não foi mais vista. Desvaneceu no nada.

Quando deram pela falta de Tereza só ouviram a risada baixinha sendo levada no vento.Ela tinha ido para um lugar melhor.

Comentários

  1. Anônimo6.11.09

    Lindo e emocionante esse texto...
    Parabéns por tamanha sensibilidade!

    Rejane.

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  2. Ti...7.11.09

    Na vida temos o compromisso de passar adiante o que aprendemos, deixar lições valiosas, ensinar o que aprendemos pra que tudo se torne uma linda lembrança que nunca se esquece, fazer o melhor sempre, fazer o que podemos e aprender a fazer o que não podemos e não sabiamos pra tornar agradável alguns momentos com pessoas especiais, pessoas especias se escondem por trás de atos pequenos que depois se tornam grandiosos, a grandiosidade da vida está em dividir, compartilhar, estender a mão sempre que possível, pessoas simples que dedicam um pouco do seu tempo pra compartilhar o pouco que tem não esperando receber nada em troca, apenas a satisfação de ver o seu próximo crescendo, aprendendo, e como pagamento um enorme sorriso de satisfação...

    tava meio perdido nesse mar virtual, resolvi voltar por aqui, há quanto tem hein, até

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