Dúvida (Parte I)



- Mãe de onde eu vim?

A pergunta surgiu assim que ele entrou em casa. A mãe ficou desconcertada. Engasgou com um pedaço da maçã que estava comendo.

- Oi filhote você chegou meu lindo! Como foi na escola? Brincou muito?

O menino se aproximou e deu um abraço na mãe.

- Oi mãezinha, estava com saudade de você. – Disse dando um beijo no rosto da mulher, que se abaixou para poder ficar na altura do garoto e beijá-lo também.

- Também senti saudade de você meu anjo.

Ela tirou a mochila da costa criança e a pousou sobre o balcão da cozinha. Na verdade estava tentando fazer com que o menino esquece-se da pergunta que tinha feito há pouco. Tudo bem que sabia que um dia ele ia querer saber como tinha vindo ao mundo, mas tinha que ser justamente naquela quarta-feira?

- Quer maçã Mateus?

- Não.

- O que você quer fazer agora? Quer que eu brinque com você? Mamãe ainda tem um tempinho antes de voltar para o trabalho.

- Não quero não mãezinha.

- Então vamos tomar banho! Você tá todo sujinho. Parece um porquinho. Já para o banheiro. Um, dois, três, corre!- Pediu a mulher sorrindo.

Ao que tudo indicava, ela tinha conseguido dobrar o menino.

Entraram no Box. Por mais sapeco que fosse Mateus sabia que ali precisava ser comportado. A mãe ficava uma fera quando ele insistia em dançar e pular debaixo do chuveiro molhando-a toda.

- Mãeeee.

- Oi filhinho. – Respondeu tranqüila.

- De onde eu vim?

Não tinha jeito. Ela teria que responder a pergunta insistente do filho de 6 anos. Tinha que pensar numa maneira de explicar o processo de reprodução humana. Queria que o marido estivesse ali. Que fosse ele a esclarecer para o menino toda aquela teoria.

- De onde você veio?

- É...

- Hum...

Ela continuou ensaboando o garoto.

- Hein mãe! – Insistiu.

- Porque você quer saber?

Não era a pergunta mais correta. Francamente ele só tinha 6 anos! Corrigiu-se. Às vezes esquecia que ele ainda era pequeno demais.

- O Felipe disse que nós viemos de dentro da barriga da mãe. Mas mãe sua barriga é tão pequena, não é que nem a da tia Vera que é grandona, então como é que eu cabia aí dentro?

A mulher caiu na risada.

- Que foi? – questionou Mateus meio sem jeito.

- Desculpa filho.

Ela tinha percebido que a história da cegonha não ia colar. Saíram do banheiro. Sentou o menino enrolado na toalha no sofá. Aproximou-se do armário. Sabia que o marido deixava uma revista escondida num vão por ali. Encontrou-a. Puxou. Era uma das últimas playboy.

-Safado! Continua comprando. – Retrucou baixinho.

- Que foi que você disse mamãe?

- Nada filhinho.

Folheou. Parou numa página em que a mulher estava numa daquelas posições que quase dava pra ver o útero.Estendeu para o filho.

- Meu Deus! – Exclamou o garoto assustado.

- Que foi Mateus?

- Mãe tem uma aranha no pipi da mulher e ela não faz nada!

A mãe caiu na gargalhada. Mateus a olhou desconcertado.

-Desculpa filho. Esquece.

Ouve-se um barulho na porta. O pai entra no apartamento.

- Paiiiiiiiii.

- Oi filhão!

- Oi Amor. Que bom que você chegou!

- Tá tudo bem?

- Vai ficar melhor agora querido. Mateus pergunta pro seu pai o que você queria saber. Ela vai te responder direitinho.

- Pai de onde eu vim?

A mulher a essa altura do campeonato já se dirigia para a cozinha deixando os dois a sós.

- Melissa volta aqui! – Pediu o homem.

- Amor vou fazer um lanchinho. Enquanto isso você tira a dúvida do Mateus.

- Melissa!

- Ah querido. – Continuou a mulher com um queijo na mão, segurando com a outra a porta da geladeira. - Depois conversamos sobre a playboy que estava escondida debaixo do armário.

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