Um príncipe em minha vida

Ele apareceu para mim numa tarde ensolarada de sábado. Céu azul, ‘Ilha do Amor’ ao fundo. Atrasado. Para ser sincera quase duas horas depois da hora marcada, tudo bem, paciência.

As 13h15 ele surgiu entre a multidão. Não num cavalo branco, mas num desses carrões de última geração. Sofisticado, trajava um paletó bege, chapéu em punho. Um tanto refinado para uma vila balneária, certo, certo, ele podia. Sorriu para as fãs desvairadas. Não beijou as criancinhas, sabe lá Deus se elas tinham tomado banho hoje, melhor não arriscar.

Lentamente ele subiu a bordo, da carruagem? Não do barco mesmo. Ele ia para Maguari.

Logo mil luzes tomaram conta do espaço ao redor, intensas, pequenas, rápidas, lentas.

Passou por mim e não me viu.

Seriam meus trajes?

Tudo bem que eu não era uma Lady Dy, porém garanto que na camisa listrada, na calça jeans desbotada e no all star quadriculado eu estava muito mais bonita que qualquer Duquesa da Cornuália.

Fomos para lados opostos.

Tentei me distrair comendo bolinho de piracuí, quando talvez ele estivesse comendo caviar.

Eu no calorão. Ele no ar condicionador.

Contrates. Tudo bem.

Subi num morro na tentativa de chegar mais próximo. Um brutamontes me olhou furioso. Melhor não cutucar onça com vara curta.

Tentei driblar os paparazzis ... e quebrei a cara, eles eram altos e mais fortes do que eu.

Parti para o plano B e agi por baixo ... só vi pernas e quase fui pisoteada.

Foi aí que apareceu o meu fado padrinho. Ele segurou minha mão e me guiou, me deixou no meio do salão. Olhares curiosos ‘quem será ela?’. O encanto passou rápido e logo era gata borralheira.

Caí aos seus pés. Me ajoelhei. Me arrastei, mas ele nem me viu.

Subi numa mureta.

Tentei desviar de outros braços, nada adiantou.

Seria eu invisível ou pequena demais?

Meu fado padrinho surgiu de novo, ainda esperançoso.

‘-Venha comigo.’

Eu o segui pelas escadas.

A multidão ainda me encarando.

Enfim ele veio caminhando em minha direção. Não estávamos a sós, mas ele estava ali.

Abri o maior sorriso do mundo. Meu coração disparou.

Ele cada vez mais perto.

Parou.

Deu um tchauzinho.

Partiu.

Pronto. Agora eu tinha a foto que eu queria para minha matéria e já podia voltar pra casa.

De volta a minha vida de perereca.

Comentários

  1. O Príncipe teria saído "melhor na foto", aos olhos de muita gente, se tivesse se reunido, conversado sobre ambientalismo/preservação/conservação, não somente com "Ongueiros", à portas fechadas - estes mais interessados nos recursos que virão do estrangeiro-, com políticos e autoridades. Quem verdadeiramente preserva a Amazônia, e deveriam ter sido tratados como "pessoas-chaves", participantes ilustres da reunião, são as populações tradicionais. Se não fosse por elas - os verdadeiros conhecedores e "Doutores" da floresta (muitos não sabem nem mesmo escrever seu nome)-, seguramente, não haveria mais nada de pé na Amazônia.

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  2. Anônimo17.3.09

    Concordo amiga Rejane, desenvolvimento sustentável já existe aqui na região amazônica a bastante tempo, acho que isso seria uma herança dos povos indigenas, e acho que o principe aprenderia mais conversando com as pessoas da comunidade do que com os "Ongeiros" que na sua maioria, que fique claro não todos, só estão procurando um jeito fácil de ganhar dinheiro...

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  3. Caro Ti, você, que considero um cara inteligente, esclarecido - pelos comentários que faz aqui no Blog da Dannie-, analise comigo e veja se não tenho razão - ainda comentando sobre o assunto "Amazônia Brasileira ou Legal": não é estranho o nº de Ongs presentes na região, comparando-se com o Nordeste, por exemplo. O que se conclui, é que muitas delas(não todas, deixo claro) têm interesses meramente econômicos, travestidos de "intuitos ou objetivos preservacionistas". Por que, no Nordeste, o nº delas não atinge a casa das centenas e, na Amazônia, são milhares ? Não parece ser o minério, a biodiversidade, as terras, o foco de tão acirrada proteção e de tão "grande amor"? A região Nordeste, o que mais quer e precisa, são de ONGs tão boazinhas assim pra ajudá-los, para assisti-los...E por que são em nº tão reduzido, por lá? Tem outra: o país não incentiva "estudiosos em Amazônia". Nos últimos 20 anos o nº de doutores formados na região é ridículo, de causar vergonha! Equivale ao nº que uma univ. como a USP tem, em seus quadros. Perceba: todos os estudos sobre a nossa região tem um estrangeiro figurando, encabeçando. Não sou xenófoba, porém, isso me revolta ! O pessoal lá de fora é que detém grande parte do conhecimento sobre nossa biodiversidade, sem contar a biopirataria propriamente dita, vinculada, quase sempre, a apropriação indevida de conhecimentos tradicionais. Os indígenas, os quilombolas, os ribeirinhos, os seringueiros, "se beneficiam" com o "terreiro pra varrer e com sujeira deixada a ser catada". E esse povo que fica "protestando" (protestar sentado numa cadeira, num apto, num shoping, no ar-condicionado, qualquer um faz), no site Globo Amazônia, por que não vão estudar, viajar, conhecer de perto a realidade amazônida, fazer algo de útil e concreto em prol da causa? Na verdade, querem é se exibir, aparecer no ranking. Desculpa o desabafo, Blogueira. Ainda consigo me indgnar, e isso é um bom sinal, tratando-se de Brasil.

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  4. Anônimo17.3.09

    Dani, texto show de bola !!!
    Adoro quado narra suas aventuras.
    Beijos!!!!

    João Gabriel

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