O perfume

- Que perfume é esse?

Ele cheira a gola da camisa.

- Perfume? Que perfume?

- Esse que você está usando!

- Eu não estou usando nada.

- Está assim do contrário não estaria te perguntando.

- Deve ser o desodorante antitranspirante.

- Não é.

- O sabonete.

- Sou eu que compro seus sabonetes e essa fragrância não lembro ter comprado!

- Vai ver é do shampoo, o condicionador, a loção pós-barba, sei lá! Que diferença isso faz?

- Toda diferença! Você é meu namorado!

- E daí? O que o fato de ser seu namorado tem a ver com perfume que você está sentindo?

Silêncio.

- Você tem outra!

- Eu tenho o quê?

- Outra!

- Você pirou? – Questiona ele surpreso.

- É claro! (pausa) O perfume é da outra! Uma fragrância chinfrim dessa só podia ser de uma mulher desqualificada, sem estilo e burra.

Ele sorri das afirmações.

- Como você sabe que ela é desqualificada, sem estilo e burra? E se ela for o contrário?

- Luís Augusto quem é ela? – Ela grita.

Silêncio novamente. Ele senta no sofá. Baixa a cabeça. Ensaia por onde começar. Centra o olhar na mesa da sala. Ela sentada do seu lado. De pijama. Assistindo um desses seriados sobre mulheres mal-amadas. Ela adora esse tipo de programa. Cabelo despenteado. Barra de chocolate sobre a mesa. Ele desabotoa o primeiro botão da camisa. Está quente. São 22h30.

- Você tem certeza que quer saber? Pergunta tranquilamente.

Ela desmorona.

- Quero. – A afirmação soa baixinha, quase sussurrada.

Ela não esperava isso. Francamente não. Como agir dessa forma. A vontade dela era de correr para o quarto, trancar a porta e chorar abraçada ao travesseiro.

- Eu há conheci outro dia.

Pausa.

- Em uma festa. Na casa de um amigo. Nossa ela estava maravilhosa. A mulher mais bonita que já vi na minha vida. Sei lá tinha uma coisa entre nós. Amor a primeira vista. É isso! Amor.

Ele a observa. A expressão dela fica cada vez mais triste.

- Meu Deus! Um avião! Que corpo. Que sorriso.

Ela continua calada.

- Nunca pensei que uma mulher linda como aquela viesse falar comigo. Logo eu! Eu!

Ela se revira no sofá. Abraça a almofada. Contempla o bordado. O olhar fixo no objeto.

- Eu vou casar com ela.

Ela se assusta.

- O quê?

- Vou casar com ela!

- Mas o que está acontecendo?

Ela caminha pela sala.

- Meu Deus! O que foi que eu fiz meu Deus. Por quê? Porque comigo?
- Eu ia te contar. Sabe tenho ensaiado isso há alguns dias, mas quando te vejo eu fico sem reação. As palavras não saem. Eu não consigo, mas hoje. Hoje. Quando entrei no elevador eu prometi pra mim que não passaria. Eu preciso te falar. Voltei pra casa decidido. Emprestei até o perfume de um amigo no escritório. É por isso o cheiro. Queria estar perfumado. Você não gostou do perfume?
Ela permanece calada. Desconsolada observa pela janela os carros lá fora. Ele mete a mão no bolso. Levanta do sofá. Aproxima-se. Beija o ombro dela. Ela recusa. Não entende. As lágrimas começam a rolar no rosto.

Ele respira fundo.

- Quer casar comigo?


Comentários

  1. Anônimo7.8.09

    Dannie, adorável esse texto ! Muito bem bolado. O que o ciúme não faz, hein?! A tomou ela própria como sem estilo, desqualifica e burra.... Ah, esses nomes compostos que usa nas crônicas caem super bem; tornam os homens verdadeiras crianças nas mãos dessas mulheres impulsivas e e temperamentais...É essa a intenção?? risos... Luis Augusto ficou ótimo.

    Rejane.

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