Encontro



- Leva a de morango.

Ela sorriu sem jeito. Estava à frente do expositor, percorrendo com o indicador no ar os pacotes de camisinhas.

Virou um tanto desconcertada para ver o dono da voz. Embora ela fosse uma mulher resolvida, dona do seu corpo e da sua vontade, certos momentos são um tanto complicados de se vivenciar, principalmente aquele que envolve a compra de uma camisinha, ainda mais em uma farmácia onde uma mãe tentava controlar o filho pequeno próximo a seção de perfumes, um casal de idosos comprava os remédios do mês e um dos atendentes parecia entediado olhando a tela do telefone.

- De morango. - disse o sujeito alto, de cabelos castanhos na altura do ombro, de intensos olhos negros e barba por fazer. – Vocês mulheres não adoram morango? Então? Essa pode ser uma boa opção.

Sabe aquele momento em que você quer que um buraco se abra e você consequentemente seja transportada para outra galáxia? Essa era vontade dela naquele instante. Pegou o pacote e se direcionou pra onde mesmo? Ah, para a seção dos shampoos. Ainda viu ele sorrir, diga-se de passagem um p*t@ de um sorriso. E meu Deus! Era um daqueles sorrisos de matar! E para completar o homem além de uma voz encantadora, era charmoso, ainda mais vestido daquela forma totalmente despojada.

Tentou ler um rótulo de algum produto que prometia cabelos sedosos e desembaraçados no verão e no fundo não entendeu nada que estava escrito ali, não por culpa do designer que desenvolveu a embalagem, mas por aquela revoada de borboletas que pairava no seu estômago. Pegou um avulso e mais dois outros um pouco adiante. Passou ao lado dele e para não parecer mal educada, sussurrou um ‘obrigada’. Ele apenas sorriu e acenou com a cabeça.

No caixa sentiu que a fitavam, mas ela tentou pensar nas tantas outras coisas chatas que teria que fazer naquele dia na tentativa absurda de manter a calma. Claro, que você sabe que o destino pode ser algo irônico e engraçado e ela ao sair da fila do caixa ainda tentando guardar o troco na bolsa e segurar a sacola de produtos, deu de frente com uma parede de músculos, muito perfumada (homens perfumados tem todo o meu respeito, já sabem ser irresistíveis daí). Preciso dizer que ela quis desmaiar e sair correndo? Pois é lá estava ela ‘tropeçando’ com o sujeito de novo. Ele segurou-a pelos seus antebraços. E a sensação que percorreu o corpo dela, não dá para descrever agora.

- Você é sempre desligada? – perguntou o sujeito.

Ela forçou aquela expressão natural, mas não dava. Ela esperava entrar numa farmácia comprar discretamente uma camisinha, sair dali tão ‘na sua’ quanto entrou, porém as coisas saíram tudo ao contrário e do controle. Ela parou no expositor com camisinhas, apareceu um cara do tipo protagonista de livro-de-romance-erótico, ainda sugeriu qual o sabor comprar, deu bola para ela, que ficou totalmente desconcertada porque afinal qual a possibilidade daquilo acontecer em plena uma quarta-feira terrível? E quando ela já se achava ‘conformada’ que era muita coincidência para uma hora só, quando já avistava a porta para a liberdade eis que ela dá de cara no peito do moço. É sério tudo isso?

E de todas as coisas e desculpas que ela poderia falar naquele momento, a nossa cara amiga solta um ‘você é um psicopata?’.

É claro que ele lançou um olhar surpreso. E ela fechou os olhos tamanha a besteira que tinha acabado de dizer.

- Desculpa. Foi mal. Eu vou prestar mais atenção.

- Não. Não sou nenhum psicopata. Só não sou imune a uma bela mulher.

- Então é safado?

Senhor! Parem essa guria, como alguém podia fazer a junção das palavras mais equivocadas para um momento daqueles!

Ela passou a mão no rosto. O que estava fazendo?

- Moço, desculpa. Você é meio desconcertante.

- Tudo bem. Além de desligada, já vi que é direta.

- Se não for pedir muito o casal pode sair da fila, eu preciso pagar minhas compras. – pediu a mãe do garotinho da seção de perfumes.

Ela ajustou as sacolas, saiu do caminho e seguiu para a rua. Mas claro que nem tudo ia acabar assim? Alguns encontros são premeditados para serem os mais desastrosos possíveis. E agora vem aquele momento que eu conto que a sacola rasgou, os shampoos caíram no chão, junto com os pacotes de camisinha e as barras de chocolate branco que ela comprou no caixa e adivinha? Quem foi que a socorreu? O sujeito da farmácia!

E lá foi ele juntar todos os produtos no chão. Se encontraram na mesma farmácia mais uma outra vez dias depois quando ela foi comprar os medicamentos para dor na perna engessada, eu já falei o quanto ela era desastrada? Ainda bem que só torceu o pé, mas não preciso dizer que ele quis cuidar dela, preciso?

Trocaram telefones, foram ao cinema, tomaram sorvete num terceiro encontro. E bom, eu só posso dizer que a minha amiga teve sorte! Quantas pessoas você conhece, que encontraram o amor da sua vida numa farmácia?

 
Foto: Internet

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